O conceito de hérnia complexa é bastante técnico, mas de forma prática, são as hérnias que vão precisar de técnicas avançadas de correção dentro do procedimento cirúrgico. Essas técnicas geralmente envolvem a secção (corte) de músculos, às vezes de maneira extensa.
Inicialmente, esse tipo de técnica não acarreta nenhum prejuízo e faz parte de um arsenal essencial para tratamento de hérnias consideradas difíceis de tratar. No entanto, quando se pensa em recidiva, ou seja, em caso de retorno da hérnia, pode limitar as opções para uma segunda cirurgia. Ainda, o uso dessas técnicas costuma alongar o tempo da cirurgia ou mesmo causar um pouco mais de dor pós-operatória.
O uso da toxina botulínica para tratamento de hérnias ocorre desde 1999, quando foi primeiramente descrito seu uso para tratar hérnia muscular em membro inferior. Em 2006, pesquisadores relataram os benefícios da toxina em ratos, com aumento de seu volume abdominal e redução da tensão da parede abdominal, facilitando o fechamento de defeitos grandes sem que houvesse comprometimento respiratório. Após mais de uma década de uso neste campo, o procedimento oferece um perfil de baixos efeitos colaterais, segundo a Abdominal Core Health Quality Collaborative (ACHQC), banco de dados muito relevante no estudo das hérnias.
A aplicação de toxina botulínica tem sido um método efetivo para alongar e relaxar a musculatura da parede abdominal, facilitando o fechamento do defeito e melhorando os resultados pós-operatórios. O alongamento dos músculos da parede permite que o cirurgião feche o defeito sem tensão, não colocando estresse excessivo nas fibras musculares.
A toxina botulínica A é produzida pela bactéria Clostridium botulinum, e é inibidora da liberação de acetilcolina, resultando em flacidez muscular. O procedimento, apesar de heterogeneamente relatado na literatura, costuma ser realizado guiado por ultrassom, com aplicação de 1 ampola de toxina. Se apresenta como um método seguro e eficaz para reconstrução de parede abdominal, já que a taxa de complicações associadas ao procedimento não passa de 8%. O efeito da toxina é aparente em 2-3 dias, com efeito máximo em 2 semanas, podendo durar de 6 a 9 meses.
Idealmente, a aplicação é realizada 4 a 6 semanas antes do procedimento cirúrgico, para máximo efeito no dia da cirurgia. É um procedimento realizado no consultório, sem necessidade de repouso ou nenhuma outra alteração na rotina do paciente até o dia da cirurgia. É sempre aplicada anestesia local antes da realização do procedimento, que é bastante tolerável do ponto de vista da dor. Tudo é realizado de maneira estéril, para evitar infecções.
A indicação de uso ou não desta ferramenta no pré-operatório é do cirurgião que vai realizar o procedimento e são várias as indicações, porém sempre restritas à indicação médica.